FREDERICO ORR

Tenho boas e enesquecíveis lembranças da pessoa marcante e inconfudivelmente cristã que é Frederico Orr. Desde os tempos de menino, a igreja batista da qual fazia parte esperava com expectatativa as manhãs ou noites que ele era convidado a pregar. Lembro de algumas mensagens que ouvi, e a impressão que dava era que enquanto ele pregava, ora éramos levados ao choro e ao quebrantamento, e ora, poucos momentos depois, ao riso descontraído.

No dia da cerimônia de despedida do pastor Caio Fábio (pai), Frederico Orr veio à frente ajudado por alguém que o conduzia em uma cadeira de rodas. Subiu ao púlpito com dificuldade, segurou o microfone com mão trêmula, mas proferiu uma palavra segura cheia de autoridade de Deus. No ocasião, falava ele que o velho Caio podia ser conceituado pelo que Paulo dizia de si mesmo: um homem segundo Cristo. Posso também afirmar que Fred Orr era um homem segundo Cristo.

Seu testemunho de vida, que compartilhou inúmeras vezes em várias ocasiões, de quando chegou no Amazonas pela primeira vez, recém casado, cheio de planos, e a súbita passagem de sua jovem esposa no barco ainda quando estavam à caminho de Lábrea, fica nitidamente registrado na memória, mas igualmente marcantes foram seus conceitos de fé, e suas muitas tiradas inteligentes e sacadas geniais.

Uma das histórias engraçadas que contou, foi quando um irmão titubeante, que claudicava entre a igreja e o mundo, veio pedindo-lhe conselho:
- Pastor, minha vida é cheia de altos e baixos, ora estou em Cristo, ora eu estou no mundo. Que faço?
- O irmão pertence a que igreja? - Perguntou o pastor Orr.
- Ha, eu sou membro da igreja Batista Regular.
- Agora entendo, disse o pastor.
- Isso acontece com você porque você é um crente somente regular, precisava se esforçar para ser um crente excelente!
Outro  “caso” engraçado que ouvi dele, foi quando contou que havia em Lábrea um outro irmão que era muito apegado "às coisas do mundo", dentre as tantas, era chegado a forrós e carnavais.
Um dia o pastor Frederico Orr vinha passando por uma praça, havia uma roda onde havia muitos expectadores em torno de uma festa e dentro da roda o "arrasta pé" comia solto, gente dançando, outros tomando cerveja, o som da música muito alto, e percebeu aquele irmãozinho lá na roda, meio que “vai, não vai”, em dúvida se entrava na gandaia ou não.
O pastor Frederico veio de mansinho por trás, e empurrou-o pra dentro da roda, dizendo:
- Vai logo, homem, o teu coração já está aí mesmo!

Ele sempre que iniciava uma exortação, geralmente começava com a frase: "Esse negocio de crente que…”, aí “sentava a pua” na moçada.
Ele me contou que uma vez estava para falar em uma conferência missionária em São Paulo, e antes dele pregar, fizeram o “favor” de cantar um cântico que homenageava o Barnabé da Bíblia. O coro dizia assim:
Era o seu nome Barnabé, natural de Chipre,
Também chamado de José das Consolações;
Homem bom e piedoso, cheio de fervor e fé,
Homem de Deus.
Depois do corinho, foi dada a palavra ao pastor Frederico, que tão logo subiu no púlpito, foi logo “arregaçando”:
Esse negócio de crente louvar a homens! Irmão, louvor é somente a Deus! Ele é o único digno de nossa adoração! Aí começou sua mensagem.

Quero aqui homenager meu amigo Frederico Orr, irmão querido que dispensou muitas horas, na Cruzada Amazônica, e em sua casa, para tirar muitas das minhas dúvidas, para discutirmos teologia e doutrina horas à fio, e falarmos sobre as profundas e insondáveis verdades do Evangelho. Aqueles momentos valeram muito para minha formação espiritual de hoje e para ter a coragem de pensar com liberdade sobre as verdades das Escrituras de forma aplicativa e relevante.

Hoje ele está imerso no Mistério. Amando o Inescrutável, agora, sem nenhuma barreira mais. Mergulhando no pulsar do coração de Deus.
Como já disse Manfred Grellert certa vez:
É…o céu está ficando cada vez mais interessante.