MEMÓRIAS - Aeroporto de Ponta Pelada
Sempre fui fascinado por aviões, até hoje. Ainda fico espantado em ver uma máquina mais pesada que o ar, pesando muitas toneladas, se erguer como um pássaro gigantesco e elegante, permanecendo muitas horas seguidas no ar.
Às vezes quando viajo, me vejo flutuando dentro de uma dessas máquinas fantásticas, às três horas da manhã, confinado numa casquinha de noz na escuridão imensurável do espaço, a 10.000 metros de altura, numa temperatura externa de 50 graus abaixo de zero, e aí me pergunto: que estou fazendo aqui?
Passeio raro, mais do que esperado era buscar alguém no Aeroporto Ajuricaba de Ponta Pelada.
Geralmente eram minhas avós, Antonina (por parte de pai) e Lilia (por parte de mãe) que sempre estavam viajando. Lembro em acordar bem cedinho , meu pai já havia contratado o táxi do seu Aerolino, que ficava em uma frota enfileirada perto do Relógio Municipal na Av. Eduardo Ribeiro. Naquela época nós não tínhamos nem carro, nem telefone. Nem faziam falta.
O carro de seu Aerolino era um DKW quatro portas, cor de buriti, novo e brilhante. Saíamos em direção à rua Getúlio Vargas até entrarmos na Sete de Setembro na esquina do Cine Guarany, passávamos pelas tres pontes, e subíamos na rua principal do bairro de Educandos. Gostava de ficar na janela, sentindo o vento friozinho da madrugada bater de proa no rosto. Passavámos pela moageira de trigo, pela fábrica de juta, aí ja começava a visualizar ao longe a torre de comando, os galpões das empresas aéreas, e contra o céu da manhã que despontava, a biruta esvoaçando na torre do aeroporto. O carro passava ao rés da pista e testemunhava estupefato, os aviões estacionados nos angares com seus bicos voltados para o céu, máquinas imponentes, com suas hélices gigantes levantando poeira, fazendo o capim se inclinar. Olha o Irondelle! Olha o Caravelle!eram aeronaves da Varig, da Vasp, da Panair, DCs 10 e outras máquinas poderosos que faziam um barulho ensurdecedor. Nessa época começavam a aterrissar os primeiros boings, que quando desciam só faltavam arrebentar tudo com o som estrondoso.
Meu coração batia forte quando subíamos para o pátio e me inclinava no parapeito do mezanino para ver aquele espetáculo indescritível, aviões de todos os tamanhos decolando e aterrissando em um movimento mágico aos meus olhos infantis gulosos por aventuras, vendo com olhos aguçados, os empregados lá embaixo na pista taxiando os aviões com seus macacões brancos com tarjas laranjas agitando bastões sinalizadores para orientar os pilotos no estacionamento, outros dirigiam carrinhos de bagagem que pareciam um trenzinho, outros pilotavam empilhadeiras, outros, carros-tanque, e tinham os que dirigiam tratores que levavam as escadas móveis para as acoplarem nas portas dos aviões de onde os passageiros desciam, depois da viagem cansativa de longas horas de vôo.
Às vezes, subiamos ao Restaurante Palheta para um lanche, ou andávamos no saguão do Aeroporto, onde haviam cafés, lojas de artesanatos exóticos que disponibilizavam artefatos indígenas, penachos, cocares, miniaturas de animais da região, de caboclos remando canoinhas repletas de frutas e sacos de produtos da terra, e havia uma banca de revista que vendia inúmeros postais de Manaus e paisagens amazônicas. Depois ficávamos aguardando minha avó vir empurrando o carrinho de bagagem (será que ela vai trazer algum lanche do avião,ou algum presente?), até sair para o saguão onde esperávamos ansiosos, depois de meses de ausência. Era uma festa o momento do reencontro. Abraços emocionados, sorrisos para todo canto, mas não gostava em nada ter que voltar, entrar no carro e fazer o trajeto de retorno para casa.
Se desse, morava em um aeroporto, que nem o Tom Hanks no filme Terminal.
Não havia aventura melhor!
Comentários
Não conheci o aeroporto de ponta pelada mas, este texto me fez recordar do aeroporto de Letícia (Colombia). Era guri, 13 anos talvez, iamos uma turma de amigos. Quando o avião ia decolar dava de costas para uma rua na qual nos colocavamos, agarrados a malha do aeroporto. Quando as turbinas eram acionadas ao máximo nos agarravamos forte a malha e quase que voavamos!! Era genial! Bom até a policia nos proibir porque era perigoso! Coisas de moleque.
Grande abraco e continue escrevendo estas cronicas saudosas!
Edjane
Que bom vc tá ajudando muitos a valorizarem o que vale a pena!!!
Escreva mais!
Gê
nos anos 70, os primeiros que passei em Manaus, início da Zona Franca e recordações de uma terra que jamais esquecerei.
No alto do restaurante do Lorde Hotel, onde morei varios meses com minha mulher, ficava vasculhando no orizonte o ponto longinguo que lentamente ía se transmutando e se personalizava no tão esperado vôo que chegaria do Rio de Janairo.
Era o tempo daquela Manaus sem trafego, ruas desempedidas e de nos acomodar-mos no carro, rumo ao Ponta Pelada. Naqueles anos vividos, eu tão feliz e não sabia, mas resta as memórias dessa maravilhosa terra Manauara com o seu aeroporto.