Tem que ser pela graça!
— "E Se é pelas obras, já não é pela graça". Em outra versão: - "Porque, se a escolha de Deus se baseasse no que as pessoas fazem então a sua graça não seria a verdadeira graça".
Estava meditando nessa passagem de Paulo. Ela vem me incomodando durante muito tempo, ocupando muitas horas dos meus pensamentos. Porque se é assim tão cristalino como o texto indica, então a maioria de nós, infelizmente, está perdida e imersa numa nebulosa incompreensão do texto.
Porque o que vejo mais hoje no meio gospel é a pretensa anulação da obra definitiva da cruz pelo esforço de agradar a Deus por obras e feitos religiosos. Vejo e ouço falar desses “cristãos” que se perderam no emaranhado das regras, dos usos e costumes, fazendo do trabalho religioso moeda de troca e nessa barganha frustrada, buscam vantagens a qualquer preço, se matam por cargo, influência e prestígio, se envolvem em um ativismo viciante que os fazem cada vez mais cativos do legalismo mortal. São os que sobem e descem monte, fazem voto, vigília, jejum, “pagam” o dízimo, decoram textos enormes da Bíblia, oram, marcam ponto na igreja de manhã, de tarde e de noite, não com a intensão de buscar conhecer mais a Deus como bem maior e Sua Palavra como fonte de obediência e regra de vida prática, mas pelo lucro pessoal, pra se dar bem, para vencer batalhas espirituais e obter sucesso financeiro, quando não conseguem dominar nem a si mesmos e vencer suas próprias neuras e visões adoecidas.
Vejo sempre esses milhares de obreiros, pastores e igrejeiros viciados em obras, movidos à justiça própria. A cena se assemelha à dos tempos obscuros das penitências, das compras de bênçãos e indulgências, da venda de pedaços de terra no céu, das romarias extenuantes, do enclausuramento monástico que reduz e castra a liberdade, do paroquialismo exclusivista, da veneração das relíquias, do endeusamento do clero, da corrida por poder e influência, cenário bem característico da Idade das Trevas.
Tudo parece que é feito com base na graça, mas não é. É pelas obras, e se é pelas obras, deixou de ser graça há muito tempo, se tornou des-graça. Uma coisa ou outra, não dá para conciliar, pois uma rejeita a outra. Aos olhos de Deus, trabalho é ofensa, o descansar Nele, é graça.
Hoje em dia, quase ninguém mais espera e descansa em Deus O deixando agir, quase não há mais indivíduos, grupos ou comunidades que permanecem quietos deixando Deus ser Deus, quase ninguém mais se move sob a sombra da cruz e morre para si, agindo em e por Cristo, para a glória exclusiva de Deus, se doando em amor descomedido e por pura gratidão, servindo a causa do Reino, sem exigir nada em troca, e sem pretenção alguma.
Apesar da formação dos grandes conglomerados da fé, e da inumerável multidão se confessa Jesus somente com os lábios, mas a vida demonstra justamente o contrário. Quase ninguém mais vem a Jesus para depositar o fardo e descansar Nele, antes, porém, tomam seus fardos de chumbo de volta e os agigantam tornando-os mais insuportáveis ainda, e a vida cristã, uma bigorna sobre os ombros.
Quase ninguém mais? Sim... Se não estiver sendo negativista em minha exposição, fora o remanescente fiel, a igreja verdadeira que se guarda impoluto diante desse quadro nefando, nesse “auê” todo que há por aí, há muita poeira levantada e pouca edificação sólida alicerçada na Rocha, há muita palha e madeira, e pouco ouro, prata e pedras preciosas.
Porque, se é assim, quando as obras dos homens forem passadas no teste do Fogo Revelador de Deus, tudo que foi feito em nome de si, motivado pelo egoísmo e orgulho, como serviço prestado à denominação, à instituição e a homens, será pulverizado, transformado em pó e cinzas. Somente as obras que foram feitas em Cristo e em seu nome, prevalecerão intactas, porém agora mais valiosas ainda, por serem aquilatadas pelo fogo de Deus.
OBRAS MERITÓRIAS, ESFORÇO HUMANO, RELIGIOSIDADE, LEGALISMO, ATIVISMO IGREJEIRO, SÃO TÃO LIXO E TÃO ABOMINÁVEIS A DEUS, QUANTO QUALQUER OUTRO PECADO QUE OFENDE E AFASTA DE SUA GRAÇA E DE SUA SANTIDADE.
Comentários
Há muito a ser feito. Os campos estão prontos para a colheita. Acho que mesmo hoje com trocentas igrejas, Jesus falaria ainda assim que são poucos os trabalhadores. Não porque tem pouco "obreiro", mas porque muitos fazem pelos motivos expostos aí nesse texto.
Peço a Deus que me ensine a trabalhar, mas fazer pra ele e da maneira que é pra ser.
Acho que é normal de querermos agradar quem nos faz um bem, mas isso deve ser apenas na horizontal. Na vertical a parada "tem que ser pela graça" e por amor pois o que veio primeiro, antes da ação ou do agir de Deus a nosso favor, ou seja, tudo que Ele fez na cruz e ainda faz por nós, antes disso Ele nos amou e o que motiva a ação de Deus é o amor.
Dá pra perceber isso claramente em João 3:16, e também tem um texto no AT que Ele fala a um profeta (num lembro quem)+ ou - assim: "Com AMOR ETERNO te amei, e com benignidade te atrai para mim”. Primeiro Ele ama e depois Ele age. Agente precisa amar a Deus primeiro e depois servi-Lo e servir ao próximo por amor a Deus e por essa graça que nos humilha (não de forma pejorativa).
Valeu muito Manoel, nos fazer pensar sobre a motivação de nossas atitudes.