EVANGÉLICOS SEM EVANGELHO


Ontem o Markito me entregou o jornal Diário do Amazonas para eu ler sobre a reportagem do posicionamento da bancada evangélica na Câmara Municipal de Manaus a respeito de dois projetos de lei propostos. Um, apresentado pelo vereador Leonel Feitosa, que beneficiava as prostitutas, o qual daria a concessão do título de utilidade pública à Associação das prostitutas do Amazonas (As Amazonas). O outro, a instituição do dia 17 de maio, o Dia Municipal contra a Homofobia, desta feita, proposto pela vereadora Mirtes Sales. O teor da reportagem versa sobre a rejeição das duas propostas por parte de nove vereadores da bancada evangélica.

Ressalto aqui minha indignação contra a posição dessa bancada. E aqui não julgo essência, julgo palavras. Não julgo a raiz, mas os frutos. Não julgo destino, mas posicionamentos. Não julgo salvação, mas obras. Não julgo causa, mas os efeitos. E não me importo se quem está lá possui títulos de grande vulto no meio evangélico. E não tenho medo das palavras imprecatórias que possam vir da parte de alguns deles contra mim, pois sou lavado no sangue do Cordeiro e minha Bíblia diz que praga nenhuma chegará à minha tenda!

Aqui me valho do Evangelho que Jesus pregava e nele me arrimo, e de como Ele se comportaria numa situação dessas. Ele, que diferentemente dos fariseus de sua época (que se matavam para manter sua reputação, e criavam todas as formas de assepsia para não se contaminarem com os pecadores imundos), não hesitava em fazer das prostitutas e pessoas de reputação duvidosa, seus amigos. E defendia e andava com essas pessoas massacradas pela sociedade e pela religião impiedosa, indo em suas casas e se locupletando com seus banquetes regados a muito vinho e conversas alegres de companheiros chegados. Quem a religião rejeitava, Ele acolhia debaixo de suas asas alentadoras e trasformadoras.

Essa é a essência do Evangelho. Amor incondicional ao próximo, e dele não podemos nos afastar. O resto, é farisaismo estóico e estéril.

Agora, vamos aos argumentos. Rejeitar as propostas acima alegando que “a prostituição vende e comercializa o corpo, e o corpo é templo do Espírito que devemos cuidar e respeitar, e não podemos estar de acordo com uma atividade ilegal”ou “que evangélico preza pelo casamento e pela família e não vende o corpo” e “não queremos uma sociedade prostituída. Isso fere a família, as instituições sociais e as normas éticas. Será que vou matricular minha filha numa associação de prostitutas ou meu filho numa associação de gays? Como é que fico? Vou votar numa coisa que a sociedade é contra?”. Como diria meu pai numa situação como essas, valha-me Deus!

Prostituição é um grande mal, inoculado na sociedade humana desde sempre. O que não podemos fazer, é deixar de ser sal e luz do mundo, defendendo uma classe de mulheres tão massacradas pela vida, tão acachapadas pela culpa, e completamente despojadas dos direitos básicos que dignifiquem suas pobres vidas. Venhamos e convenhamos. Dificilmente poderíamos mudar o quadro que já está pintado (e como igreja estamos devendo essa, pois deveríamos ser de fato instrumento de mudança pela metanóia da conversão no coração, e sermos consequentemente agentes de um avivamento que produziria mudanças substancias na sociedade como um todo), mas podemos criar meios de amenizar a dor dos oprimidos, sancionando uma lei que os ajudem a se aprumarem como seres humanos e a viverem com um pouco mais de dignidade. E isso também é Evangelho.

A Homossexualidade está crescendo cada vez mais, e isso é inevitável. É um mal que está grassando nossa sociedade, é. E a homofobia também, principalmente dentro das igrejas. E nossa resposta para ambos é amor e verdade, respectivamente. Não devemos ser cristãos obtusos com mentes reduzidas que fogem à sua responsabilidade, mas gente sarada com senso de justiça que aproveita as oportunidades com inteligência.

Ao ler a reportagem pude ver, com pesar no coração, que “pedras que clamam” possuem mentes muito mais aguçadas e preocupadas com o semelhante do que nove que “representavam o evangelho” (coloco com letra minúscula de propósito) em sua bancada de evangélicos, mas infelizmente, desprovidos do Evangelho.

Como igreja, precisamos refrear essa avalanche de ódio e preceito. e essa onda de evangélicos com pouco discernimento bíblico e pouco argumentação inteligente. Um dia para protestar contra essa onda maligna de rejeição contra pessoas amadas por Deus talvez fosse muito viável, nem que fosse a título de reflexão e conscientização geral.

Agora estou um pouco mais aliviado. Passei a noite pensando em derramar meu coração sobre esse assunto e compartilhar com vocês.

Espero que esse texto de alguma forma atinja sua vida e você seja confrontado com o Evangelho Fascinante da Graça. Mas o que ama e acolhe, não o que se fecha e alija.

Comentários

markeetoo disse…
é, Jesus ama o pecador.
Se existe uma associação que vai dar assistência médica, instruções sobre DST e algumas outras coisas pra essas mulheres, será que a maneira de agir é puní-las sem direito à dignidade, sem direitos humanos? Será que os evangélicos tem ido ao encontro dessas mulheres com amor e tem instruído?
É muito fácil se posicionar contra algo e parar por aí. Se eu sou contra alguma coisa, preciso fazer algo pra mudar o quadro. Se eles acham que punindo, reduzindo essas mulheres à vidas miseráveis (que grande parte já vive) vai resultar em coisa boa, me diga por que que até hoje não resultou?
Anônimo disse…
ALYCAMPOS:

O evangelho já sofrido e deturpado com tanta interpretação equivocada e tanto aproveitador, fazendo das Boas Novas uma Mina de Ouro pessoal e longe da Mensagem verdadeira de Jesús, mais uma vez é manchado. É triste. Acho que ele nem param pra pensar e meditar realmente sobre se isso vai ou não ser benção pra essas pessoas e para a sociedade, é como se fossem programados, se tiver a palavra prostiruiçõa..automaticamente a qualquer coisa: NÃO!..NÃO..
Anônimo disse…
Esse blog esta muito fantastico mesmo. De Chevette '89 ele foi para um Hummber '09.
Ed disse…
Como Markeetoo escreveu, concordo com tudo, Jesus odeia o pecado mas ama o pecador, julgar todo mundo sabe, mas fazer algo para mudar ninguém faz..abraços!
Manoel,
Você disse em seu blog o que muitos evangélicos gostariam de dizer.
Tenho impressão que nossos irmãos vereadores não entenderam o que é a utilidade pública,ou estão com um tremenda falta do que fazer, ou ainda, não sabem que o país em que vivemos é laico, ou seja, não tem religião oficial, consequentemente, ninguem pode impor sua fé, aos outros, a ferro e a fogo.
Será que eles sabem o que significa declarar uma instituição de "utilidade pública"?
Será que eles sabem o que suportaram os nossos pastores pioneiros no interior do Estado quando eramos uma minoria insignificante? Conhecem a real história das igrejas evangélicas?
Por outro lado, conhecem os dissabores que enfrentam as prostitutas sem ter uma instituição que possa falar por elas?
Será que eles sabem o que é ter uma receita médica e não ter dinheiro para comprar o medicamento?
Manoel, de quem é esta foto que ilustra teu blog?
Um abraço do Miquéias.
Mix Martins disse…
é incrível como as pessoas que deviam ser mais inteligentes pra o Reino... sao as mais.... ...... preencha como quiser...
wilson prata disse…
Apesar de discordar de alguns pontos do que você apresenta (homosexualismo como sendo um mal), fico feliz que ainda assim hajam pessoas que conseguem ver através de arquétipos e estereótipos o ser humano que há em cada um. Fico mais impressionado e admirado por saber que algumas dessas pessoas são evangélicas, pois esses arquétipos, em muitos casos, são a antintese daquilo que consideram correto, saudável. Parabéns!
Igor Santana disse…
Otimo texto. porem nao concordo que a homossexualidade seja uma onda crescente apenas no contexto atual. Sempre foi e sempre sera, sempre esteve nos meios, talvez em menos evidencia como hoje. entretanto sempre se fez presente.

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