RESOLUÇÕES DE ARAQUE



Me impressiona bastante o esforço sobre-humano de muitos na ingênua tentativa de acertar os ponteiros na vida antes e durante a virada do ano. No nosso multifacetado contexto socio-religioso brasileiro marcado pelo sincretismo pragmático e pela superstição generalizada, as posturas em relação ao final do ano são as mais variadas possíveis. E o quadro não muda mesmo se falando do contexto dito evangélico. Vão desde as promessas ditas de pés juntos e a mão direita sobre o coração, passando pelas infames mandingas “gospeis”, como consultar o “guru” espiritual, pra saber se vai dar tudo certo, participar da corrente dos 21 dias, se encharcar de óleo ungido, até chegar-se a atitudes aparentemente amenas como encher o caderno com votos de mudança radical, e a mais comum no mundo da redoma gospel: passar o ano todo vivendo “como o diabo gosta” e no final do ano ir ao culto de vigília (como se fosse um ritual mágico de descarrego ou espurgo), entrar na igreja com o pé direito, de preferência usando roupa branca, (e se bobear, depois do culto jogar uma florzinha no mar ou no rio, vai que dá certo…) senão o ano não vai prestar, tudo vai dar errado, não vai haver prosperidade, vou ficar doente, ou alguma coisa ruim vai me acontecer.
Tudo isso no entanto, é mera ilusão de tolos. Uma armadilha sutil que centraliza a responsabilidade de cumprir votos no esforço humano e no desempenho da religião.
A falsa idéia de que se fizermos muitas obrigações e nos empenharmos muito nelas, vai fazer o ano novo ser diferente, promissor, vou pecar menos, todo sábado vou dar banho no cachorro, vou ser fiel ao meu marido, vou dar mais tempo à família, vou ser mais honesto e menos egoísta, vou aproveitar mais o tempo ocioso, vou ajudar as pessoas carentes, mudar o mundo, vou atravessar muitas velhinhas indefesas no cruzamento, fazer exercícios físicos e vou ser melhor cristão.
O resultado vocês já sabem: tudo volta a ser como antes ou até pior.
O argumento que uso aqui não é o pessimismo existencialista de nossa época pós- moderna. É a lógica bíblica embasada no que o próprio Jesus disse: “Sem mim nada podeis fazer”. E ponto final.
Nada que façamos, nos esforcemos e empenhemos nossa palavra enquanto homens falhos, pecadores tentenciosos ao mal, pode se tornar eficaz, gerar bons resultados ou perdura por muito tempo.
Por isso, a possibilidade de termos um ano novo realmente feliz, cai para a escala zero.
Então, por favor, não faça mais promessas, votos ou tome resoluções inconsistentes que você não vai cumprir nunca.
Antes, viva o evangelho. Dependa de Deus. Seja um seguidor de Jesus sem maiores pretenções. Busque viver o Sermão do Monte, e pela fé encharque-se das virtudes ali descritas, reflita o caráter de Cristo, encarne a pobreza de espírito, o choro pela aflição humana, seja um construtor da paz, opte pela simplicidade que se contenta em qualquer situação, vivencie o amor incondicional ao próximo, vivo, prático e cheio de atitudes concretas de solidariedade. Valorize mais os momentos que vive fora da igreja e do contexto religioso, sendo um cristão da porta pra fora, vivienciando o culto da vida no dia-a-dia, comendo, bebendo ou fazendo qualquer outra coisa para glória de Deus, sim, valorize essas coisas muito mais do que aquela uma hora e meia que passa no fim-de-semana dentro das quatro paredes de um templo. Viva para o mundo e para os outros, disponha-se a ser útil servindo humildemente ao Reino de Deus, modifique o ambiente em que está inserido, tome o balde a a toalha, se incline, lave pés calejados de dúvida, massageie pés ressecados de intolerância e insensibilidade, busque ser solução e referencial de vida na sua casa, na sua vizinhança, no seu trabalho, e para quem é igreja com você. Deixe de ser um pobre consumidor e torne-se um servo à serviço do Rei Amigo que se deu por nós sacrificialmente.
Assim, sim, posso afinal dizer:
UM FELIZ ANO NOVO PARA TODOS!

Comentários

Edjane disse…
Prefiro viver um dia de cada vez do q fazer mil promessas q nunca vou cumprir,claro q tem muita coisa pra ser mudada aqui, mas isso não depende de mandigas e sim do meu relacionamento com Deus.
Feliz 2011 para o Senhor pastor!
bjs
Marilena Silva disse…
Concordo em gênero e grau, meu desejo para o próximo ano é viver o evangelho de Cristo e todas as implicações nisto contidas. Que Deus me ajude!
Danilo disse…
Opa Marilena! Tirei uma xerox do seu comentário e posto aqui, risos.
Danilo disse…
Bota este lá no Genizah Mano! Abração!

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