PASSAGEM DE ANO NOVO


As lembranças do Ano Novo se instauram nas teias da memória, de forma impressionante.  Manaus das minhas reminicências infantis era pacata, o centro da cidade era convidativo, e quase não tinha trânsito. As ruas ainda estavam enfeitadas com as cores do Natal recente.


Minha mãe passava o dia nos afazeres culinários, cuidando de tudo para que a ceia fosse perfeita.
Aí pelas nove da noite começávamos a nos aprontar para o culto de vigília na Primeira Igreja Batista. Nós púnhamos a roupa nova comprada para as festas de final de ano, roupas às vezes nada confortáveis de tecido de linho engomado e passado à ferro, pinicava de forma irritante, causando arrepíos incontroláveis por todo o corpo.
A procura por um taxi na Manaus de outrora, em noite do dia trinta e um era complicado. Mas via de regra, chegávamos a tempo  de ouvir os primeiros acordes dedilhados ao piano, tocado  pela  dona Maria Júlia, a deixa para a entrada dos coralistas que, enfileirados,  assumiam seus lugares na plataforma de madeira  na lateral, perto do púlpito.
 O que mais lembro emocionado era no final do culto, era quando, depois da oração final impretada pelo pastor, todos os presentes faziam um grande círculo dentro da nave do templo, as famílias e irmãos congregados de mãos dadas, enquanto o pianista dava os acordes do hino Benditos Laços do Cantor Cristão, cuja letra exponho aqui para os leitores sentirem as reverberações do pulsar do meu coração ao divisar aqueles momentos de saudade:

LAÇOS  BENDITOS

Benditos laços são
Os do fraterno amor,
Que nesta santa comunhão
Nos unem ao Senhor.
 
Ao mesmo trono vão
As nossas petições;
É mútuo o gozo, ou a aflição
dos nossos corações.

 Aqui tudo é comum,
O rir e o prantear;
Em Cristo somos todos um,
No gozo e no lidar.

Se desta santa união
Nos vamos separar,
No céu eterna comunhão
Havemos de gozar.

Cinco minutos para a meia-noite. Quando terminava o hino, muitos apertavam as mãos de forma mais aconchegada, outros disfarçavam as lágrimas, outros, desprendiam o aperto de mão para se voltarem para um abraço caloroso, a cidade lá fora festiva, a molecada começando a bater nos postes de ferro das ruas do centro da cidade, e o foguetório explodindo no raiar do novo ano.
Eu ali, sentindo  o calor humano aquecendo meu coração e esquentando meu conjuntinho de linho engomado (até hoje não visto linho de jeito nenhum!), o amor em alta, a família ali me cercando, e a expectativa de coisas novas que estavam por vir naquele ano que iniciava, despontando novinho em folha, anunciando que a vida continuava, e que teria que segui-la dando meus próprios passos em direção a rumos desconhecidos, mas certo que Deus seria um guia perfeito e seguro. Humm…
Paz perfeita, vida feliz.
 Feliz ano novo!

Comentários

Danilo disse…
Coisa linda Manoel!
markeetoo disse…
texto mt bonito!!
Feliz ano novo, pai!
Esse ano naum tow ae pra dar um abraço na virada do ano, mas vcs estão em pensamento bem juntinho de mim =]

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