Pesca maravilhosa

Os dias de carnaval foram revigorantes. Já faz quatro anos que a família AbrigoR15 se refugia na fazenda Soares Nunes, quilômetro 21 da estrada Manaus Boa Vista. São quatro dias de refrigério, na companhia de amigos, fazendo o que se gosta, conversar, estudar a Bíblia, dormir, cantar, brincar, orar, meditar, e no meu caso, pescar.
Todas as manhãs eu descia o vale, carregando minha caixa de material de pesca com anzóis, linhas, corricos, isca de carne, tesoura, alicate, facas, etc, estacionava o carro perto da cobertura do velho píer rústico e abandonado, e me recluía no santuário ecológico no fundo do vale verde, sentado no piso de madeira, contemplava o enorme lago que formava um prodigioso espelho d’água, rodeado de vasta vegetação, ficando ali em silêncio, ouvindo o som das aves canoras, que emitiam toda sorte de sons e gorjeios harmoniosos.
Sentava e esperava. Primeiro, ela vinha voando garbosa e suavemente aterrissava no mato baixo do outro lado do lago, uma garça cuja alvura contrastava com o verde escuro da mata, e logo ficava lá, procurando comida, andando de um lado para outro, nas águas rasas perto do barranco da orla. Todos os dias o espetáculo se repetia. Depois, vinha voando baixo um gavião, que anunciava sua presença com seu grito esganiçado. Empoleirava-se no alto de um galho seco, abria suas asas de envergadura admirável, e ficava lá por tempo indeterminado. Predador nato como é, logo alçava um vôo fulminante em direção a passarinhos indefesos que logo fugiam, tentando escapar de sua garras afiadas.
E eu ali, sentindo a brisa suave, agradecido a Deus, reverente, cultuando, orando, louvando, fazendo minha devocional diária, em pleno ar livre, imerso naquela nave imensurável, cujo templo tinha o céu azul e as nuvens como teto, embebecido diante de tanta evidência da mão providente de Deus, que supre a necessidade de passarinhos, borboletas, besouros, peixes, e aves, quanto mais de mim, ser humano, frágil, tão carente de sua graça...
Nesse ano não pesquei tanto quando no ano passado, que a cada dia pescava dois ou três matrinxãs. Desta vez não, no entanto, fisguei um somente. O Matrinxã é um peixe amazônico, de dentição forte (cortou várias vezes minha linha), carne saborosa, e com até 50cm de comprimento. Sua coloração é prateada, habita águas limpas, e sua pesca se faz com anzóis com isca de frutas ou carne de outros peixes. O que pesquei era bem grandinho, tanto que deu para comer comigo muitas pessoas. Preparada pelas mãos mágicas de dona Maria, nossa “super cozinheira”, temperada com sal, cebola, pimentão, salsinha e tomate, quando a vi na panela, toda dourada, exalando um aroma delicioso, comecei logo a salivar, e retirando uma posta generosa, a comi prazerosamente com farinha e pimenta murupi, e ainda participaram do lauto repasto o nosso convidado especial, o amigo músico Eduardo Mano, sua esposa Eline (vindos do Rio de Janeiro para participar do retiro do Abrigo) e a Joanne, que ofereci a ela um bom pedaço como presente de aniversário, e outros tantos que rasparam a carcaça do peixe, em busca de obterem alguma fração de sabor do peixe delicioso.
Depois de várias tentativas, senti a linha ser puxada num sopapo violento, então o coração bateu acelerado, como bate o coração de verdadeiros pescadores, alegre, excitado por pegar um peixe, descair a linha, cansá-lo, ouvir o “ziiiimm” da linha de náilon correndo na superfície da água, puxar suavemente até poder subjuga-lo definitivamente sobre o assoalho do píer, e tirar-lhe o anzol da boca.
Realmente nesses dias “o mar (lago) não estava pra peixe”, embora muitos atrevidamente se debatiam bem pertinho de mim, como que gozando da minha cara, inclusive um enorme pirarucu, que batia na água com sua cauda, fazendo um rebojo encrespado.
 Se não fosse o prazer do momento de solitude, de reclusão pessoal, poderia considerar minha pescaria frustrante. Mas não, foram momentos revigorantes, de autoanálise, de contemplação e louvor a Deus, dias inesquecíveis. E com a benção de pescar, nem que fosse um único peixe. Uma pesca maravilhosa!

Comentários

markeetoo disse…
caramba, o peixe era grande! hehehe nem cheguei a ver a matrinxã, só vi agora na foto.

sem dúvida esses momentos de pescaria devem ser altamente introspectivos e perfeitos pra reflexão... eu num sei se teria paciência. Admiro quem tem hehehe.

Belo texto!
AlyCampos disse…
Texto massa. Lebro daquela manhã com o janssen fazendo as fotos super cedo e ao chegar ao lago, la estava o pescador!..até brinquei que nada ia cair nequela linha, mais olha ai a prova!!
Marilena Silva disse…
Valeu perder um pouco do café da manhã super delicioso do acampamento.
lacy disse…
Pr. Manoel uma "amiga do FB. mandou-me acessar o seu blog, pois ela ainda não conhecia o "CAIO PAI", a não ser pelo livro que Aninha lhe ofereceu... Obrigada pela homenagem ao meu querido e sempre lembrdo marido e ainda com muitas saudades. Bs. Lacy
Telly ♥ disse…
Que texto maravilhoso, conforme eu ia lendo, eu fui lembrando de alguns detalhes dessa vida, como o detalhe que na minha família por parte de pai, é cultivado por todos o hábito de pescar e isso meu pai quis me passar desde muito cedo, ele falava que fazia 'um bem pra alma' e nos aproximava de Deus, ele que era um cara sabido, aliás, os pescadores são caras sabidos!

E isso não é estória de pescador não! Rsrsrsr

Parabéns pelo texto!

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