JUSTA HOMENAGEM!

      Dia dos pais, Aniversário de oitenta e sete anos (Hoje, 23 de agosto), e bodas de prata, 25 anos de casado. O acúmulo de três eventos significativos no mês de agosto merece uma homenagem especial.
      Manoel do Carmo Neves Silva. Maranhense, da pequena cidade de Arari, nas margens do rio Mearim. Família grande, de muitos irmãos, o pai, Antônio gostava de mudanças e empreender novos negócios, a mãe Antonina, era uma matriarca com pleno domínio nas fronteiras do lar, cuidava dos filhos com esmerada dedicação, era devota de nossa senhora do Carmo, daí todos os filhos terem Carmo no nome. Mas havia um problema, agudo, um incômodo silente, uma busca incessante por paz, sem, no entanto jamais alcança-la, ao contrário, quanto mais devoção sincera e mais orações junto ao oratório que ficava na sala do casarão, mais medo, mais angústias, e mais visagens apareciam à noite. Quando essas aparições se manifestavam, vovó Antonina conclamava os filhos para se ajoelharem diante do altar noite adentro, e tal era a devoção sincera que imprimia em suas orações que aquelas manifestações opressivas iam desanuviando até passarem por completo. 
      Essa experiência de angústia de alma foi a causadora da parte evangélica da família Silva. Em um domingo cedo minha avó saiu para fazer compras no mercado do vilarejo, quando ouviu a voz de alguém gritando e muita gente ao redor, era um velho pregador itinerante que chegara à cidade. Minha avó ouviu a mensagem, absorvendo com avidez seu conteúdo de paz, esperança e libertação. Chegou a casa com as compras, e falou para o vovô Antônio: você nem sabe, hoje ouvi uma mensagem que trouxe uma paz tão grande ao meu coração, eu nunca me senti tão bem em toda a minha vida. Depois desse evento, as angústias e as visagens se foram para nunca mais voltar. 
       Vovó se tornaria uma crente fervorosa, mulher de passar horas de joelhos em intercessão. Depois de muitas tentativas de negócios que não derem certo, a família se mudou para Manaus, a cidade das oportunidades, onde inicialmente passou-se um período de escassez, mais ao poucos foi prosperando e todos os filhos de dona Antonina foram bem encaminhados na vida. A maioria mora em São Paulo, papai permaneceu em Manaus até hoje. 
      Papai sempre foi um esposo que viveu a vida comum do lar com discernimento, como bem se refere Pedro em sua primeira carta. Minhas reminiscências me levam a momentos de lazer, quando aos sábados, meu pai ia ao mercado municipal bem cedinho com cestas de vime, voltava com verduras, frutas e os ingredientes para mamãe preparar o farnel de nosso almoço, e mais tarde nos levava aos balneários de águas escuras e frias nos arredores da cidade, para nos refazer do calor intenso. 
      Às vezes, íamos às sextas feiras ao Zivam, um “banho” de propriedade do nosso tio Armando e lá pernoitávamos em uma casa de madeira em cima de um platô, com varanda que dava para uma área ampla com uma piscina natural e a mata fechada por trás, passávamos o sábado inteiro ali brincando, correndo, mergulhando, e voltávamos de tardinha, eu, cansado das atividades recreativas do dia, mas feliz, peito pleno satisfação por ser filho do seu Manoel, menino de sorte. 
      Lembro-me dos momentos de intervalo do trabalho, papai almoçava conosco todos os dias, participava das conversas animadas dos filhos ao redor da mesa, contava as fascinantes aventuras do Arari, ouvia as músicas acompanhadas pelo violão, depois se recolhia, lia um trecho de um livro e tirava a sesta rápida, costume que tem até hoje. 
      Todas as tardinhas, minha mãe se aprontava e ficava esperando pelo papai debruçada no parapeito do balaústre do pátio que dava para a Rua Luiz Antony. Morávamos atrás do colégio Dom Bosco, ao lado da vila Vitória. Papai voltava do trabalho vindo dos lados do porto, do Banco do Brasil situado na estação da Praça da Matriz na esquina da Epaminondas com a Sete de setembro. 
      Minha memória mais remota me transporta a um final de tarde, meu pai entrou em casa carregando um embrulho em papel madeira amarrado com um cordão, fiquei empolgado pensando se tratar por seu feitio, de uma barco à vela, mas quando abriu, era um objeto em madeira, em formato do palácio da Alvorada, de um lado as fotos de todos os colegas formandos em pequenas molduras redondas, do outro a diretoria e os professores, lembrança merecida pela formatura em direito, ano de 1963. 
      Pai acumulou três profissões e as cumpriu com denodo, bancário, professor universitário e advogado. 
      Todo domingo era dia de igreja, de manhã e à noite. Acordávamos cedo e íamos à Escola Bíblica Dominical na Primeira Igreja Batista: “Domingo, ó dia de amor e cheio de prazer! Almejo, ó meu Senhor, a graça e o teu poder...” entoávamos o velho hino que reverberava no salão da igreja. Papai sempre ativo na igreja, colaborador e amigo de pastores, líder de jovens, diácono dedicado, e muitas vezes foi vice-moderador, na ausência do pastor. 
      Trago no peito gratas lembranças de momentos importantes de minha vida quando fui acompanhado de perto por meu pai. Amigo próximo, companheiro presente em minha infância, na adolescência com minhas dúvidas, curiosidades sobre sexo, sentimentos e impulsos em relação a namoro, e as conversas prolongadas sobre a existência de Deus, sobre a vida após a morte, e sobre os inúmeros questionamentos que me fizeram duvidar da fé quando li os livros de Érik Von Daniken Eram os deuses astronautas? Semeadura e Cosmos e De Volta às Estrelas. Ele, com toda a paciência do mundo me fortalecendo a fé, tecendo o enredo de minha decisão futura de seguir uma carreira de pastor e líder espiritual para os que de mim se aproximassem, preparando-os para o porvir. 
      Em todas as horas, sempre contei com as palavras sábias e ponderadas de meu pai e em momentos cruciais de minha vida ele estava lá. 
      Nesse dia, minha homenagem especial a esse homem parecido com Jesus, amigo e conselheiro. Agradeço a Deus de coração pelo que sou, e o que sou hoje reflete em muito a educação, a cultura e a fé que recebi desse herói da fé dos nossos dias, onde o Evangelho de Jesus se encarna e é manifesto através de seu carinho, de sua meiguice e determinação na vida. 
      Sinto-me orgulhoso e privilegiado por carregar o nome dele: Manoel do Carmo Neves Silva, acrescentado de Filho, para sempre honrar e preservar esse bom nome por onde quer que eu ande.

Comentários

markeetoo disse…
Belíssimo texto! SOu fã do vovô!
Marilena Silva disse…
Justa homenagem. Realmente um homem admirável, cheio de carinho e amor por todos que se aproximam dele.
Anônimo disse…
que benção,que privilégio!parabéns pelo paizão!

abraços Rebeka
Alysson Campos disse…
Pai está no filho e o Filho torna-se o Pai! Fico nas espreitas mas sempre checando e corrigindo o leia mais. rsrs..

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